Os bancos brasileiros voltaram a aumentar os juros
cobrados das famílias. De acordo com os dados divulgados nesta
segunda-feira pelo Banco Central, a taxa média cobradas de pessoas
físicas subiu de 71% ao ano para 71,7% no mês passado. É a mais alta já
registrada, desde 2007, pelo BC nos empréstimos com crédito livre, ou
seja, sem levar em consideração os financiamentos de casa própria.
A alta ocorre apesar da estabilidade da taxa básica de juros. No caso
do cheque especial, a taxa média cobrada pelos bancos quebrou novo
recorde. Subiu de 308,7% ao ano para 311,3% ao ano.
É a maior dos
últimos 22 anos!
O juro do rotativo do cartão de crédito teve um salto
ainda maior: de 452,4% ao ano para 471,3% ao ano. Também a mais alta da
série histórica, iniciada em 2011.
Os bancos aproveitaram para cobrar mais de quem está disposto a
renegociar as dívidas. Os juros médios nesse tipo de modalidade aumentou
de 54,7% ao ano para 56% ao ano.
Essas elevações são vistas num momento em que a inadimplência das
famílias tem mostrado estabilidade. No mês passado, apenas o nível de
calote em crédito livre subiu levemente, de 6,2% para 6,3%. Foi o
primeiro movimento desse percentual, que estava estável desde dezembro
do ano passado.
ESTIMATIVA PARA O CRÉDITO
A crise
econômica foi tão forte nos primeiros meses deste ano, que os bancos
negaram empréstimos para os clientes que demandaram. A procura também
diminuiu porque, num período de incertezas, famílias e empresas procuram
não comprometer renda futura. Por isso, o Banco Central revisou sua
estimativa para o crédito no Brasil. Antes, apostava que haveria um
crescimento de 5%. Agora, a previsão é quase de estabilidade com uma
alta de apenas 1% do saldo dos empréstimos no país: um sinal de que a
recessão e a falta de confiança fizeram um estrago maior que o previsto
antes. Na contramão, as instituições aproveitam para cobrar mais dos
correntistas mesmo com o custo de captação do dinheiro mais baixo.
No ano passado, quando o país já estava em crise, o crédito cresceu
6,7%. O crédito direcionado continua a aumentar, mas o livre (aquele em
que o banco escolhe como pode emprestar) cairá 1% neste ano. As
instituições mais retraídas são as privadas nacionais. No ano passado,
já diminuíram o saldo em 1%. A queda em 2016 deve ser muito maior: 4%. A
estimativa já leva em consideração os impactos da saída do Reino Unido
da União Europeia.
— No mercado de crédito brasileiro, o funding (recursos que o banco
tem para emprestar) é doméstico. O mercado financeiro está muito sólido,
tem liquidez e provisionamento. Isso contribui para enfrentar esse
momento — argumentou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio
Maciel.
Normalmente, os saldos de crédito tendem a crescer, já que, na
contabilidade, entram os juros pagos. Para haver uma queda, é preciso
uma retração forte nas concessões. Foi o que aconteceu nos quatro
primeiros meses deste ano. Desde o início do ano, a queda foi de 2,3%,
apesar de uma leve alta de 0,1% no mês passado.
— Não observávamos na série histórica quedas mensais. Isso reflete o
dinamismo baixo da atividade econômica — acrescentou o técnico da
autoridade monetária.
Fonte: Jornal Contábil